Resistência Bacteriana

 

No artigo de hoje, vamos explorar um assunto muito necessário: as principais bactérias patogênicas, identificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como seres de preocupação sanitária. Isso acontece em razão de sua elevada patogenicidade, resistência a antibióticos de amplo espectro e infecções relacionadas à assistência à saúde. Essas bactérias resistentes corroboram para o aumento das taxas de morbimortalidade, do tempo de internação, e consequentemente dos custos para o prestador de serviços de saúde.

A Evolução a Favor das Bactérias

As bactérias sempre foram fonte de minha curiosidade e admiração, afinal, quem diria que um ser de estrutura tão simples, um procarionte, fosse capaz de se mostrar tão adaptável ao ambiente. Um ser pré-histórico e que vem provando sua capacidade de adaptação ao longo dos anos. Charles Darwin estava certo, na natureza não sobrevive o mais forte, mas o que melhor se adapta às mudanças.
No decorrer do tempo, as bactérias aprenderam a se organizar e a se comunicar. Apesar de sua estrutura celular não apresentar deveras complexidade, ela desenvolveu mecanismos de sobrevivência para todas as vezes que tentamos matá-las. A esse processo damos o nome de resistência.

Bactérias de Importância para a Saúde Pública

Em fevereiro de 2017, a OMS publicou uma lista contendo as bactérias de importância para a saúde pública.1 Essa lista é uma ferramenta criada como apoio às entidades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das Indústrias Farmacêuticas, como diretriz para a produção de novas drogas, conforme a urgência demandada, com o intuito de obtenção de acesso a esses medicamentos, quando as drogas existentes forem insuficientes para o tratamento de uma infecção causada por um agente multi ou pan-resistente.

A OMS dividiu essa lista em três categorias de acordo com a urgência em que se necessitam de novos antibióticos: prioridade crítica, alta e média. O grupo mais crítico de todos inclui as bactérias multirresistentes, bastante perigosas em hospitais, casas de repouso e em pacientes cujos cuidados necessitam de dispositivos invasivos como: cateteres intravenosos, ventilação mecânica, sondas vesicais, entre outros. Entre elas estão: Acinetobacter, Pseudomonas, várias Enterobactérias, que inclui Klebsiella, Escherichia coli, Serratia e Proteus. Essas bactérias podem causar infecções graves como a pneumonia e infecção de corrente sanguínea, e estão relacionadas ao aumento de mortes por infecção.1
Essas bactérias tornaram-se resistentes a muitos antibióticos, incluindo carbapenemas e cefalosporinas de terceira geração – os melhores antibióticos disponíveis para tratamento de bactérias multirresistentes.1

Os antibióticos são medicamentos usados para tratar infecções bacterianas. A resistência ao medicamento é intensificada pelo uso incorreto, utilização desnecessária ou administração excessiva de antibióticos, bem como a indisponibilidade de novos fármacos pela indústria farmacêutica.2
Quando utilizado de maneira errada, por um resultado da seleção natural, o antibiótico estimula a mutação de bactérias comuns a tornarem-se resistentes, e contribui para a evolução das superbactérias.

Um outro fator bastante importante para o aumento da resistência aos antibióticos é a falha na dosagem. Isso comumente ocorre em razão da mesma dose ser recomendada e administrada de maneira igual para pacientes diferentes, sem levar em conta as características individuais de cada um.

Não Adianta mais tampar o Sol com a Peneira

Somos corresponsáveis pela resistência microbiana, e está na hora de olharmos para esse assunto com mais atenção e seriedade, para que não corramos o risco de presenciarmos um novo caos na saúde pública.
Em 1945 o médico ganhador do prêmio Nobel de medicina, Alexander Fleming, descobridor da Penicilina, alertou em seu discurso sobre o uso indiscriminado do antibiótico e possíveis mutações que poderiam contribuir para a resistência bacteriana.

O uso irresponsável dos antibióticos permitiu que as bactérias se tornassem mais resistentes ao uso dessas drogas. Em 2014 foi estimado pela OMS que as infecções causadas no mundo por bactérias multirresistentes, tais como E.coli e Tuberculose, eram responsáveis pela morte de 700 mil pessoas por ano. Posteriormente, em 2016, Jim O’Neill, um renomado economista britânico, publicou um estudo que calculou tanto as taxas de mortalidade provocada pelas superbactérias, como também avaliou o impacto econômico gerado por elas nos sistemas de saúde. Segundo o economista, os custos de tratamento de infecções causadas por bactérias ultrarresistentes chegarão a US$ 100 trilhões nas próximas décadas, e poderão matar 10 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, o que significa 1 morte por infecção a cada 3 segundos. Esse número ultrapassa as mortes causada por cânceres que matam anualmente cerca de 8,2 milhões de pessoas em todo o globo.4
A escalada prevista pelo estudo poderia provocar uma redução de 2% a 3% no crescimento econômico global.5

Estudiosos e membros de autoridades sanitárias afirmam que sem uma ação urgente e coordenada entre as frentes envolvidas nessa questão, o mundo caminha para uma era pós-antibióticos, em que infecções comuns e ferimentos simples que anteriormente eram facilmente tratados poderão voltar a ser causas de morte em razão da falta de novos antibióticos.6

Na natureza é impossível frear a evolução, mas podemos fazer como Sun Tzu em a “Arte da Guerra”, e nos empenharmos em conhecer bem o nosso inimigo e as maneiras para combatê-lo, para que não precisemos temer nenhuma batalha a ser enfrentada. Uma vez dotado desses conhecimentos e práticas, as batalhas serão vencidas e os resultados serão positivos para a manutenção da humanidade.

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Um forte abraço e até logo!

Referência Bibliográfica:

1. https://www.paho.org/pt/noticias/27-2-2017-oms-publica-lista-bacterias-para-quais-se-necessitam-novos-antibioticos

2. https://www.anvisa.gov.br/servicosaude/rede_rm/2007/2_060807/opas_1_uso_indiscriminado.pdf

3. https://ictq.com.br/farmacia-clinica/3166-oms-alerta-em-2050-superbacterias-matarao-uma-pessoa-a-cada-tres-segundos

4. The Report, Tackling Drug-Resistant Infections Globally: Final Report and Recommendations, will be published on the Review’s website at www.amr-review.org on Thursday 19 May.

5. https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141211_superbug_fd

6. https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/04/140430_resistencia_antibioticos_rb

 

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