O impacto econômico-financeiro das IRAS para os hospitais

Olá pessoal, Feliz Ano Novo!

No artigo desta semana falaremos sobre os custos relacionados ao aumento do tempo de internação devido às infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), também conhecidas como infecções hospitalares ou nosocomiais.

Segundo o Ministério da Saúde, a infecção hospitalar é definida como “aquela adquirida após admissão do paciente e que se manifesta após a internação ou a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares”.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas infecções são consideradas um grave problema de saúde pública, e estão entre as maiores causas de morbimortalidade entre os pacientes hospitalizados, levando a prejuízos sociais, econômicos e problemas de estruturação nas instituições de saúde.

Os custos causados pelas IRAS podem ser classificados em custos diretos, indiretos e intangíveis. Os diretos são aqueles relacionados com a assistência médica e multiprofissional prestada ao paciente, bloqueio de leito, medicamentos, exames, equipamentos, limpeza hospitalar, esterilização de materiais etc.

Os indiretos estão, na maioria das vezes, relacionados com o “custo” pago pelo paciente quando este encontra-se internado, como exemplo podemos citar: o aumento da morbidade, transporte para deslocamento pagos pelo paciente e/ou acompanhante durante o tempo de internação ou tratamento, descontinuidade do trabalho em decorrência do problema de saúde.

Já os intangíveis relacionam-se muitas vezes às alterações e problemas emocionais e psicológicos em decorrência da internação: dor, sofrimento, imagem negativa para o hospital etc.

Qual o impacto financeiro das IRAS?

Dados do National Action Plan to Prevent Health Care-Associated Infections: Road Map to Elimination, April 2013, USA apontam que cerca de 33 bilhões de dólares são gastos anualmente com o tratamento de IRAS. Na Europa, os custos diretos com as infecções hospitalares são de aproximadamente 13 a 24 bilhões de euros por ano.

As IRAS são causadoras de três grandes e importantes custos ao hospital, sendo: a) custos de publicidade, causados pelos óbitos e impactos negativos à imagem da instituição; b) custos econômicos e financeiros, gerados pelo prolongamento do tempo de tratamento do paciente com infecção e gastos adicionais com o tratamento da doença e comorbidades, c) custos de oportunidade, que impactam principalmente os hospitais privados em razão da redução do giro de leito, a qual gera maior rentabilidade ao estabelecimento nos primeiros dias de tratamento, como podemos observar no gráfico abaixo.

Um estudo conduzido pelo CDC (Center for Disease Control and Prevention) em 2009 avaliou os custos médicos diretos com infecções relacionadas à assistência de saúde e os benefícios da prevenção.

Os resultados apresentados nesse relatório usou como apoio dados de literatura médica e econômica para fornecer estimativas bem fundamentadas para os custos com o tratamento das IRAS nos EUA.
Considerando os ajustes de inflação no preços de produtos, insumos e equipamentos médico-hospitalares, o total anual dos custos diretos com o tratamento de infecções hospitalares variaram entre 35,7 a 45 bilhões de dólares.

Qual o custo direto das IRAS para os hospitais?

Os custos com as infeções variam de acordo com a topografia. Entre as topografias ou infecções de sítios de maior prevalência encontram-se as infecções primárias de corrente sanguínea associada ao uso de cateter venoso central (IPCS-CVC), as infecções de trato urinário relacionadas ao uso de sonda vesical de demora (ITU-SVD), infecção de sítio cirúrgico (ISC), pneumonia associada ao uso de ventilador mecânico (PAV) e infecção por clostridium difficile (ICD).

Realizando uma conversão nos valores das infecções expressos no estudo The Direct Medical Costs Of Healthcare-Associated Infections in U.S. Hospitals and the Benefits of Prevention de 2009, considerado o índice de inflação americano atual e usando uma conversão monetária para reais, teremos, na tabela abaixo, os seguintes custos relacionados às principais topografias.

 

Os custos com o tratamento das infecções hospitalares, como podemos ver acima, podem onerar muito para os estabelecimentos de saúde.

Para evitar os impactos financeiros na cadeia de saúde americana, os programas governamentais Medicare e Medicaid, responsáveis por fornecer serviços médicos e de proteção social à população de baixa renda, passou a não reembolsar os hospitais estadunidenses pelos eventos adversos causados aos pacientes, fortalecendo, desta maneira, a responsabilidade do hospitais no cuidado ao paciente, os quais passaram a buscar e implementar mais tecnologia, qualidade, inovação e segurança aos processos assistenciais, que por sua vez passaram a contribuir diretamente para a redução dos casos de infecções.

No Brasil ainda temos poucos estudos que relatam os custos diretos com as IRAS, mas já podemos perceber algumas mudanças no modelo de reembolso das operadoras de saúde, as quais seguem a mesma lógica de incentivo aos hospitais na busca de maior qualidade e segurança assistencial.

Com isso, hospitais vêm investindo recursos e esforços na implantação de programas de acreditação como ONA, JCI, QMentum, tecnologias de apoio que contribuem com prevenção de infecção como: robôs de desinfecção ambiental (AHP), algoritmos que detectam sepse precocemente, sequenciamento de DNA bacteriano em larga escala, que permite a rastreabilidade de surtos e identificação das áreas de riscos, entre outras.

Se você gostou deste artigo e quer saber mais sobre o assunto, escreva para a gente info@am3k.com.br

 

Bibliografia

https://www.jmphc.com.br/jmphc/article/view/945. Acessado em 22/12/2021.

https://www.hhs.gov/answers/medicare-and-medicaid/what-is-the-difference-between-medicare-medicaid/index.html. Acessado em 22/12/2021.

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt2616_12_05_1998.html. Acessado em 22/12/2021.
https://www.bls.gov/data/inflation_calculator.htm. Acessado em 27/12/2021.

USA. National Action Plan to Prevent Health Care-Associated Infections: Road Map to Elimination. Departament de Health & Human Services, April 2013.

SCOTT, R, D. The Direct Medical Costs Of Healthcare-Associated Infections in U.S Hospitals and the Benefits of Prevention, March, 2009.

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